Folhas de café viram matéria-prima para tecnologia sustentável criada por cientistas da USP
- Dot Comunicação

- 6 de out.
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Um grupo internacional de pesquisadores liderado pela Universidade de São Paulo (USP) descobriu uma nova forma de transformar resíduos agrícolas em tecnologia de ponta. As folhas de café, antes descartadas após a colheita, foram utilizadas para produzir nanopartículas de óxido de zinco — estruturas microscópicas com potencial de revolucionar áreas como saúde, meio ambiente e eletrônica. O estudo, apoiado pela Fapesp (processos 21/08780-1 e 24/00533-3), foi publicado na revista Scientific Reports em agosto.
As nanopartículas apresentam propriedades especiais que não se manifestam em escala convencional. No caso do óxido de zinco, o material ganha características antibacterianas, fotocatalíticas e eletrônicas. Isso significa que, ao ser reduzido ao tamanho nanométrico, pode combater microrganismos, acelerar reações químicas e viabilizar componentes mais sustentáveis para dispositivos eletrônicos.
Tradicionalmente, a síntese dessas partículas envolve compostos químicos tóxicos e processos caros. A novidade do estudo foi adotar um método de “síntese verde”, utilizando as próprias moléculas antioxidantes e bioativas das folhas de café para gerar as nanopartículas — um processo limpo, econômico e alinhado aos princípios da economia circular.
O Brasil, maior produtor mundial de café, pode se beneficiar diretamente da descoberta, ao transformar um resíduo abundante e sem valor comercial em insumo para inovação.
Nos testes de laboratório, as nanopartículas obtidas a partir das folhas mostraram eficácia contra bactérias como Staphylococcus aureus e Escherichia coli, associadas a infecções hospitalares. O resultado indica o potencial do material na formulação de novos antimicrobianos — um avanço importante em um cenário global de resistência bacteriana crescente.
Outro resultado relevante foi observado na área ambiental. Quando expostas à luz ultravioleta, as partículas conseguiram degradar corantes industriais, sugerindo aplicação em estações de tratamento de água e processos de descontaminação.
Os pesquisadores também exploraram a aplicação tecnológica das nanopartículas, combinando-as com quitosana — um polímero extraído de cascas de crustáceos — para desenvolver um dispositivo eletrônico denominado bioReRAM, uma memória de computador biodegradável. O protótipo representa um passo em direção à “computação verde”, com menor impacto ambiental na fabricação de componentes eletrônicos.
Para o professor Igor Polikarpov, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), o estudo comprova a integração entre sustentabilidade e inovação:
“Estamos diante de uma inovação que aproveita um resíduo agrícola e o transforma em soluções para áreas vitais como saúde, meio ambiente e tecnologia”, afirmou.














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