Obesidade infantil cresce e já supera desnutrição no mundo, aponta Unicef
- Dot Comunicação

- 8 de out.
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Especialista alerta que má alimentação e sedentarismo estão entre os principais fatores e que hábitos saudáveis devem começar na infância
A obesidade infantil ultrapassou, pela primeira vez na história, a desnutrição como a principal forma de má nutrição no mundo. O alerta foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em relatório que analisou dados de mais de 190 países. Segundo o levantamento, uma em cada cinco crianças e adolescentes está acima do peso — o que representa 391 milhões de jovens com excesso de gordura corporal.
No Brasil, o problema avança há pelo menos duas décadas. Em 2000, 5% das crianças e adolescentes apresentavam obesidade, contra 4% de desnutrição. Em 2022, o índice de obesidade triplicou, atingindo 15%, enquanto a desnutrição caiu para 3%. O sobrepeso também dobrou no mesmo período e já afeta 36% desse público.

A pediatra Gabriela Marcatto explica que a obesidade infantil é resultado de múltiplos fatores — que envolvem desde hábitos alimentares até o estilo de vida da família — e reforça que a prevenção começa cedo.
“A introdução alimentar é um momento fundamental. O aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, depois, a oferta de alimentos in natura ou minimamente processados são passos essenciais para formar bons hábitos”, orienta a médica. “Quanto mais cedo a criança tem contato com frutas, legumes e verduras, maiores as chances de manter esses costumes na vida adulta.”
Alimentar bem é descascar mais e desembalar menos
Na rotina alimentar das crianças, a recomendação é oferecer diariamente frutas, verduras, feijão, arroz, ovos, carnes magras e leite. “Esses alimentos são ricos em fibras, vitaminas e minerais, que contribuem para o crescimento saudável e ajudam a prevenir a obesidade”, explica Gabriela.
Ela destaca uma regra simples: “é melhor descascar do que desembalar.” O alerta vale para reduzir o consumo de ultraprocessados — bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes e outros produtos ricos em gordura, açúcar e sódio.
O relatório do Unicef aponta que a substituição da alimentação tradicional por produtos industrializados, muitas vezes mais baratos, é uma das principais causas do aumento da obesidade. Esses produtos concentram açúcar, sal, gorduras não saudáveis e aditivos, além de estarem fortemente presentes no marketing voltado ao público infantil.
A pediatra lembra que, mesmo quando a criança já passou da primeira infância, é possível reverter a seletividade alimentar.
“O segredo é a exposição repetida. A criança precisa ter contato com o alimento diversas vezes, preparado de formas diferentes e em contextos variados. O importante é não desistir diante da recusa inicial e entender que a construção de hábitos leva tempo”, orienta.
Movimento também faz parte da prevenção
Outro fator essencial é a prática regular de atividade física. A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças a partir dos 4 anos pratiquem pelo menos 60 minutos diários de atividade moderada.
“O sedentarismo é um dos grandes vilões da infância moderna. Videogames, celulares e televisão não podem ocupar todo o tempo livre das crianças. Resgatar as brincadeiras ao ar livre, incentivar esportes e participar ativamente dessas atividades faz diferença. Os pais precisam dar o exemplo”, reforça a pediatra.
O relatório do Unicef alerta ainda que, sem ações urgentes, o impacto econômico global do sobrepeso e da obesidade pode ultrapassar US$ 4 trilhões por ano até 2035, devido ao aumento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares.
“A obesidade infantil é um problema de saúde pública que precisa ser enfrentado com informação, prevenção e apoio familiar. Cuidar da alimentação e do estilo de vida das crianças é investir em saúde e futuro”, conclui Gabriela Marcatto.














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