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UFSCar revela conexão entre coordenação motora e percepção sensorial em crianças

  • Foto do escritor: Dot Comunicação
    Dot Comunicação
  • 13 de out.
  • 3 min de leitura
Participaram do estudo 694 estudantes de 6 a 11 anos matriculados em escolas públicas e particulares do município de São Carlos (SP); a coleta de dados ocorreu entre março de 2022 e junho de 2024
Participaram do estudo 694 estudantes de 6 a 11 anos matriculados em escolas públicas e particulares do município de São Carlos (SP); a coleta de dados ocorreu entre março de 2022 e junho de 2024

Um estudo realizado em São Carlos (SP) revelou que o transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC), também conhecido como dispraxia infantil, influencia não apenas os movimentos das crianças, mas também a maneira como elas percebem e respondem aos estímulos do ambiente.


Ou seja, a criança que tem dificuldade de equilíbrio ou de pegar objetos pode também não perceber sons e movimentos ao seu redor com facilidade, o que limita suas atividades diárias e o aprendizado.


A pesquisa, publicada na revista European Child & Adolescent Psychiatry, foi conduzida pela fisioterapeuta Meyene Duque Weber, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com orientação da professora Eloisa Tudella e colaboração do pesquisador Jorge Lopes Cavalcante Neto, da Universidade do Estado da Bahia. O estudo recebeu apoio da Fapesp.


Como foi feito o estudo

Foram avaliadas 694 crianças de 6 a 11 anos matriculadas em escolas públicas e particulares de São Carlos entre março de 2022 e junho de 2024.

Os testes seguiram o protocolo Movement Assessment Battery for Children, referência internacional para detectar dificuldades motoras leves a moderadas.


Com base nos resultados, as crianças foram divididas em três grupos:

  • 52 com diagnóstico de TDC;

  • 137 com possível TDC;

  • 505 com desenvolvimento motor dentro do esperado.


Pais e cuidadores também responderam questionários sobre o perfil sensorial das crianças, permitindo observar quatro padrões de comportamento:

  • explorador (busca estímulos);

  • sensível (percebe intensamente);

  • esquivador (evita estímulos);

  • observador (tem dificuldade em notar estímulos).


As diferenças entre os grupos foram significativas. As crianças com TDC apresentaram com maior frequência o padrão observador (35%), ou seja, mostraram menor sensibilidade para perceber o ambiente.

Segundo os pesquisadores, essa dificuldade pode impactar diretamente o aprendizado e a interação social, já que parte das limitações motoras pode estar ligada à forma como o cérebro processa as informações sensoriais.


Sinais que merecem atenção

O TDC é caracterizado por dificuldades em habilidades motoras básicas, como subir escadas, andar de bicicleta, recortar com tesoura ou escrever. Muitas vezes, a criança é rotulada como “desajeitada” ou “lenta”, sem que se perceba o transtorno por trás dessas dificuldades.


“Quando comecei o doutorado, quis entender como os estímulos do ambiente afetavam crianças com dificuldades motoras. Pouco se fala sobre isso. O motor e o sensorial andam lado a lado”, explica Meyene Weber.


A professora Eloisa Tudella destaca que o estudo serve de alerta para famílias, escolas e profissionais da saúde:

“Crianças com TDC muitas vezes são chamadas de ‘atrapalhadas’, mas na verdade precisam de atenção e acompanhamento especializado. A identificação precoce é essencial para garantir intervenções adequadas.”


Diagnóstico e tratamento

Embora não haja dados exatos sobre a prevalência, estima-se que o TDC afete entre 5% e 8% das crianças em idade escolar no mundo.

O diagnóstico é clínico e deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.


O tratamento combina terapia ocupacional e fisioterapia, com foco no desenvolvimento da coordenação e da integração sensorial.


“Os resultados podem ajudar pais, escolas e profissionais a enxergar além dos sinais motores. Essas dificuldades impactam o bem-estar emocional e social da criança”, afirma Weber.


Nova etapa da pesquisa

A equipe da UFSCar continuará a investigação em uma nova fase voltada à intervenção prática, com acompanhamento de crianças diagnosticadas com TDC.

“Queremos propor estratégias de reabilitação que integrem o motor e o sensorial, oferecendo caminhos mais eficazes para o desenvolvimento infantil”, completa Tudella.


Imagem: Meyene Duque Weber/CCBS-UFSCar

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